terça-feira, setembro 11, 2012

Quebra-molas


E agora?
Questionamento conveniente. Daria pra acrescentar um “PQP, e agora?”, ficaria mais próximo do genuíno. Melhor não, deixaria com ar de desespero e não é o caso... Voltemos à questão.
Se minha querida avó materna estivesse viva, diria: “’Caga’ na mão e bota fora!”. Não, não era desbocada, sempre repetia tal frase aos sussurros e com as bochechas avermelhadas. Pobre avó, não está mais. Veremos se cabe.
Dia desses, dei-me conta de como são os adolescentes, cheios de perspectivas. Fazem planos. Muitos ou poucos, intensos, cheios de joelhos, nós e dobradiças. Cabem neles sonhos inteiros, projetos mirabolantes, metas bem definidas, objetivos cuidadosamente traçados, ilusões toscas e até a realidade. Cabe tudo que eles querem que caiba e ainda uma sobra.
Os jovens, independentemente da realidade em que vivam, sempre pairam sobre ela, sobrevoam-na, de soslaio, aquecidos em suas redomas de projeções, escondidos, espiando e esperando que acabe logo para que possam voltar a brincar. Pois sim. É isso mesmo. Voltar a brincar. Querem, então, regressar à infância. Querem ter quem os proteja ou ponha de castigo! Quem os pegue no colo ou os obrigue a terminar o dever de casa! Dê-lhes um beijinho de boa noite ou diga-lhes que está na hora de acordar! Querem, querem, querem, sempre querem em demasia!
Pobres adolescentes, já o tem.
Um bêbado põe-se a tentar atravessar um quebra-molas, sem saber se caminha ou se para, se dá um passo ou se pula, qual pé desloca primeiro, se o faz descalço ou calçado, se retorna ou mantém os dois pés prostrados no asfalto. Quem sabe se tiver um pouco de paciência, o quebra-molas se vai. Possibilidades inúmeras. O bêbado teria de escolher uma opção, mas não podia e, por não conseguir decidir o que fazer, sentou-se no meio da rua.
Pobre bêbado, atropelou-se.
Teria sido uma boa analogia para a pergunta que iniciou este texto? Um bom fim? Deveríamos nós, jovens ou não, sentarmo-nos no meio da rua? Já estaríamos sentados? Ou teríamos já deixado o quebra-molas para traz sem atinar? Em que momento devemos caminhar ou parar? Quando ir ou deixar ir? Por que não nos avisam que há quebra-molas? E por que tantas dúvidas? Pobres de nós, nunca sabemos o que fazer.
Sábia a avó materna sussurrante... E os adolescentes sôfregos... E o bêbado dubitável.

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