sábado, março 25, 2006

As pessoas da minha vida...

Inúmeras pessoas vão entrar e sair das nossas vidas, mas nem todas permanecerão. Os motivos serão os mais variados possíveis. Elas vão aparecer de repente, vão levar a alma da gente e vão sumir para sempre. Vão voltar por querer, ficar por merecer e partir por perder.

Podem nos alegrar, nos machucar, nos acompanhar, nos guiar, amar, odiar, desejar ou repudiar, mas todas, sempre vão algo nos deixar.

As pessoas da minha vida não são as que mais amo ou as que continuam comigo, mas todas as que já passaram por mim, as que já fizeram parte do meu mundo, assídua ou esporadicamente, ainda que tenha sido de mentira. Todas que eu permiti que caminhassem comigo, por menos passos que tenham dado ao meu lado.

Algumas não mereceram esses passos

E essas eu deveria ter deixado para trás na primeira curva ou chuva, ou na primeira rasteira que me deram, mas insisti em continuar, fiz de conta que tinha escorregado sozinha. Poderia ter deixado no chão quando tropeçaram ou empurrado ladeira abaixo quando tive oportunidade. Mas não fiz. Não fiz por mim, porque não sou assim. Apenas deixei pra trás. Mas mereciam.

Há também as mornas, aquelas que fazem parte da minha caminhada, mas não fazem nada. Na verdade elas pensam que não fazem nada, pois quando estou caminhando de noite, no escuro e tenho medo, me basta saber que elas estão ali. O medo passa.

Agora, há aquelas que participam ativamente ao meu lado até hoje. Que não apenas caminham comigo, mas me guiam, me orientam, ensinam, acodem quando entro em apuros, sacodem quando preciso acordar, fazem cócegas quando preciso rir, me embebedam quando preciso chorar e me ouvem quando preciso falar.

Essas eu faço questão de caminhar junto. Nem que, para isso, eu tenha que esperá-las tomar fôlego na subida de uma ladeira ou segurar se a descida as descontrolar, ou dar a mão para tirar de um buraco, ou correr um pouquinho para alcançá-las.

Algumas caminham tão depressa que, às vezes, as perco, mas não desisto delas, vou atrás e acabo encontrando. Outras caminham a passos lentos, essas... Vou buscar. Têm aquelas que tentam pegar um atalho e acabam se perdendo e não consigo mais encontrar. Muitas se enveredam por caminhos que, para mim, não seriam felizes, mas se realizam e vibro por elas.

As pessoas da minha vida me fizeram muito mal e muito bem

Todas elas em graus e épocas diferentes. Quantas apenas acenaram para mim, mas não seguiram, quantas quiseram me seguir, mas eu corri o máximo que podia para deixá-las para trás e quantas me foram tiradas à força. Algumas eu não gostaria de ter perdido, mas elas acharam que seria melhor caminhar sem mim ou bem longe de mim.

Outras eu mesma afastei, foi melhor assim, acabariam me derrubando no primeiro barranco.
O mais importante é que continuo apesar delas e por causa delas. Sabendo que muitas ainda entrarão e sairão da minha vida e muito ainda me farão.

domingo, fevereiro 12, 2006

Jogue os dados e mude

Mudança...

Palavra que me causa fervor. Em alguns, torpor. E na grande maioria, pavor.

As mudanças são sempre bem vindas, na verdade nem sempre, mas deveriam. Como dizia o grande Raul Seixas: “Prefiro ser essa metamorfose ambulante...”.

É melhor mudar do que estagnar, por outro lado, vocês poderiam dizer que algumas mudanças são para pior. Mas, pensem comigo... 

Se não houvesse mudanças, o mundo não evoluiria e viveríamos ainda caçando e coletando, como nos primórdios. 

Às vezes precisamos deixar que as coisas mudem, elas pedem isso, pedem para serem renovadas, recriadas, recicladas e porque não rememoradas. É, relembradas. De vez em quando é válido fazer um flashback, desses que valem à pena trazer à tona ou daqueles que só valem à pena para nós mesmos.

O que não podemos é permitir que fique tudo igual, tudo gris. Nem que o cinza dos dias de inverno perdure todas as estações, ou que o laranja do verão seja somente laranja. Vamos colorir a vida, temos as cores e os pincéis, precisamos apenas de atitude.

Vamos jogar os dados

E, independente da combinação que der, aceitar o novo como uma dádiva, uma oportunidade de reconhecermos o quão fomos cabeças-duras achando que sabemos o que é melhor para nós. Que seria um risco, que poderia dar errado, que não teríamos como voltar atrás (e não precisamos), que as pessoas vão jogar na nossa cara, depois, que nos avisaram e que é melhor não trocar o certo pelo duvidoso. O duvidoso pode ficar melhor que o certo, pode ficar perfeito.

Portanto se houver algo novo acontecendo na sua vida e você ainda está em dúvida, aceite e recepcione essa novidade com toda sua alma. Pois mesmo que não dê certo, você não vai chorar pelo que não teve coragem de viver, vai além, vai aprender que fatalmente temos que fazer escolhas sempre e nem sempre acertamos, mas devemos seguir em frente. Jogue os dados e veja no que vai dar!

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Escrever é uma arte

Escrevo porque gosto. Porque quero. E, acima de tudo, porque me realizo. Alguns sentem prazer em comprar, em ser presenteado, em ajudar os outros, em ganhar dinheiro, no sexo. Eu sinto prazer em escrever. Não que não sinta prazer com as coisas anteriormente citadas, só se fosse louca! E principalmente a última, mas o que me faz sentir capaz mesmo é conceber um texto, uma crônica, um conto, uma história, um haicai, uma poesia, um roteiro, ou seja lá qual for sua designação.

Um texto bem escrito, é claro! Um texto que, após ter sido lido, possibilite reflexão, ou gargalhadas, ou lágrimas ou ainda sentir aquelas palavras entrarem em sua alma e lhe arrancarem o ar dos pulmões.

Escrevo sobre qualquer coisa, sobre tudo e sobre mim. Não gosto de escrever por obrigação, perde a graça. As palavras precisam ter liberdade para criar vida na hora certa. Então elas correm soltas pelo papel e vão se entrelaçando até formarem frases. E é com essas frases que surgem os grandes textos, não apenas da junção delas, mas da arte de interligá-las. Uma frase pode não dizer nada quando está solta ou dizer algo se escrita com paixão. Mas quando estão juntas podem dizer tudo.

Essa é a magia do texto, é começar a escrever e não conseguir parar enquanto não tiver alma própria. É começar a ler e não querer parar enquanto não terminar. Se não for assim, é porque não foi bem escrito. Pouco importa se é curto ou extenso, se em letras miúdas ou em neon, mas sim o conteúdo, a alma.

Escrevo, sobretudo, porque gosto de ler. E escrevendo, preciso ler várias vezes até que o texto fique aceitável. Gosto de saber que existem no mundo pessoas como eu, que concordam que escrever é uma arte que pode definir todas as outras formas de arte. E que na verdade somos artistas que lançam aos olhares curiosos, através de frases conglomeradas, o que possuímos de mais precioso dentro de nós.

Decididamente, escrever é um dom. Talvez não possua vocação para mais nada nessa vida, mas se eu puder continuar escrevendo, já me basta.

Vida de pesquisador!


Terça-feira, nove horas, toca o telefone. Emengarda atende. É do instituto de pesquisas que ela trabalha como free lancer, Pafúncio a convocando para a instrução (reunião onde são passados como e onde será feito o trabalho), marcada para as 13h no escritório. Ah é pra levar mochila, pois pode ser que tenha que viajar.
Emengarda, feliz, pois está sempre precisando de dinheiro, vai se preparar pra sair. Pega sua mochila, que está sempre a postos, e começa a recheá-la com um casaco, pois geralmente as viagens são à noite e ela sente frio, uma calça, duas blusas, roupas íntimas, material de higiene e prancheta, canetas e crachá. Pronto. Já pode sair? Não. Ainda falta pegar seu bloqueador solar, pois nunca se sabe aonde vai. Agora sim, está pronta, só falta tomar um banho e vestir algo confortável para agüentar a viagem.
Aproximadamente às 12h30min chega ao escritório. Lá encontra alguns dos seus colegas de trabalho que também irão viajar e conversam muito até a chegada dos coordenadores com o material, que inclui os questionários de pesquisa, os cartões demonstrativos de possíveis respostas, a filipeta (endereços dos pontos de pesquisa), a grade (papel onde constarão os nomes e idades dos entrevistados), a cidade pra onde cada um irá e, claro, as passagens. Pafúncio, o coordenador, começa a distribuir os pilotos, que são os questionários de rascunho para possíveis mudanças ou explicações, entre os pesquisadores.
- Boa tarde pessoal, vamo lá?
E todos prestam atenção minuciosamente no que ele diz até o momento em que um dos pesquisadores, (sempre ele) faz uma pergunta idiota. Bom, todos já conhecem, ele simplesmente não consegue se conter, mas dá-se continuidade, pois alguns terão que viajar às 16h. E, finalmente após várias interrupções e risadas e além do fato de o coordenador ser meio lento, consegue-se terminar.
Bom, nesse ponto cada um já sabe aonde e com quem viajará e toma seu rumo. Emengarda irá junto com Mequetrefa, uma recém chegada na função, para Nova Fátima, uma cidadezinha da Bahia mesmo, mas tão pequena que se você correr sai da cidade. Ela sabe que chegarão ao lugar à meia noite e terão que descer na estrada, procurar a cidade e se tiver alguém acordado, conseguirão uma pousadinha para passar o resto da noite, senão paciência até o amanhecer. Porém... Aquela era a noite de sorte delas, havia uma casa com a luz acesa e elas conseguiram que lhe indicassem uma pousada.
As 6h de quarta-feira as duas já estão na rua com seu primeiro entrevistado, pois quanto mais cedo começassem mais cedo terminariam e poderiam pegar o primeiro ônibus de volta sem precisar gastar suas diárias. Somente às 9h Emengarda consegue terminar seu primeiro ponto, ou seja, as primeiras sete entrevistas no primeiro endereço. Estava difícil, as pessoas estavam com pressa e não queriam parar. E ela foi para o segundo ponto disposta a fazer os outros sete, enquanto Mequetrefa tentava terminar seus primeiros. Daí percebeu que havia reclamado demais, pois lá pelo menos tinha alguém passando, ainda que com pressa, e agora não passava ninguém. Mas a Free Lancer não desanimou, ela já havia passado por isso antes e sabia que era só esperar, que haveria de aparecer alguém. Pobre Emengarda, esperou até seu protetor solar derreter todo e ela torrar com aquele sol, pois era branca de dar dó. Porém às 17h ela consegue sair vitoriosa de sua última abordagem a um senhor de 80 anos, que só entendia o que ela falava depois da terceira vez e que dizia que não sabia a cada pergunta. Mas conseguiu.
A pesquisadora extasiada depois de saber que poderia voltar para o aconchego do seu lar vai pra pousada fechar a conta e aguardar Mequetrefa. Às 17h30min a novata chega esbaforida e as duas correm pra estrada na tentativa de pegar o ônibus das 18h que era o último, conseguem. Mas ainda não acabou sua peregrinação, elas ainda teriam que levar o material ao escritório no outro dia bem cedinho, quer dizer nem tão cedo, pois o coordenador não chega cedo. E durante a viagem de volta, muito cansada e já relaxando com a certeza do dever cumprido, a trabalhadora “super-bronzeada” para pra pensar e se questiona se era realmente essa a vida que queria levar. Ela sabe que é um serviço puxado, cansativo e sem reconhecimento, pois ninguém acredita em resultados de pesquisas e pior ainda, um pesquisador só existe para aqueles que foram entrevistados por ele, pois ninguém acredita que existam pesquisadores. E depois de várias viagens, Emengarda decide que iria deixar de ser pesquisadora. Então começou a pensar que havia um lado bom, o lado de estar sempre viajando e conhecendo novos lugares e pessoas, no quanto ela gostava de arrumar a mochila sem saber pra onde ia ou se conseguiria voltar... Mas... Bastava! Tinha decidido! Depois que entregasse o material não iria mais trabalhar com isso. Chegou ao escritório, entregou o material e foi embora, irredutível.
Sexta-feira, nove horas, toca o telefone. Emengarda atende. É do instituto de pesquisas, que ela trabalha como free lancer, alguém a convoca para uma instrução (reunião onde são passados como e onde será feito o trabalho), marcada para as 13h no escritório. Ah é pra levar mochila, pois pode ser que tenha que viajar.
Emengarda, feliz, pois está sempre precisando de dinheiro, vai se preparar para sair. Pega sua mochila que está sempre a postos e começa tudo outra vez.

A felicidade é um destino ou um caminho?

Coisas acontecem o tempo todo. Coisas boas, coisas ruins, engraçadas, estranhas ou apenas coisas da vida. O objetivo maior do ser humano, ainda que piegas, é ser feliz. Mas a pergunta é: A felicidade é um destino ou um caminho?

Com certeza as respostas iriam se dividir ou talvez alguns dissessem que ela pode ser os dois. Quem sabe a vida se tornaria muito mais interessante se pudéssemos saber que determinado dia poderíamos ser muito felizes. Como um curso qualquer, onde depois de despender (ou melhor, agregar) alguns anos estudando, ao final nos tornamos profissionais.

Por que com a felicidade não pode ser da mesma forma? Passaríamos algum tempo evoluindo para um dia nos tornarmos pessoas felizes. Ou será que já não é isso mesmo?

Pois é... Acho que para alguns ela se define dessa forma, e essas pessoas esperam e esmeram-se tanto para esse tão almejado momento que ele acontece, passa e elas vão embora sem nem perceber que foram felizes.

Para outros, entretanto, a felicidade é inerente, só falta permiti-la. Ela pode assumir várias formas ou ser muitas coisas. Para quem tem fome, ela está na saciedade, para quem tem sonhos, na realização, para quem tem saudades, na presença, se tem mágoas, na vingança e para quem ama, na recíproca. Ela também pode estar em momentos, às vezes um olhar, um toque, um telefonema ou até mesmo uma bronca pode causar felicidade. Pode ser contagiosa, dependendo do grau de intensidade que ela atinge. E tenho pra mim que é sua melhor face.

O grande problema é que só procuramos esse bendito estado de espírito naquilo que perdemos ou deixamos de ganhar. Naquilo que nos foi tirado. Ficamos sempre esperando arrumar um emprego melhor, ou encontrar um grande amor, ou comprar um carro novo, ou emagrecer, ou superar o que nos machucou. É! Nós gostamos de sofrer! E sofremos não pelo que nos acontece e sim pelo que gostaríamos que tivesse acontecido.

Nós depositamos a nossa meta de ser feliz nas expectativas futuras e, quando elas não são correspondidas, nos frustramos e nos dizemos infelizes. Não deveríamos medi-la pelo passado não acertado ou pelas ilusões projetadas, mas sim pelo que adquirimos, o que temos e por tudo que aprendemos.

Que bom seria se soubéssemos conviver com a felicidade ou se pudéssemos apenas aprender a aceitá-la, já que é onipresente. Ser feliz não é minha ambição, é minha inferência. E nem deveria ser a de ninguém. Pois coisas vão continuar acontecendo e a felicidade, como algo concreto a ser almejado, não existe, ela é mais uma parte do todo. Nós inventamos essa busca incessante e usamos como pretexto para não sermos felizes.

Amores "Hi-Tech"

Os amores hoje em dia estão cada vez mais informatizados, cada vez mais “Hi-Tech”. Faz-se amor virtualmente, casa-se por intermédio de agências matrimoniais, ama-se por e-mail, declara-se por celular, abandona-se por cartão virtual e até apaixona-se por bate-papo da Internet.

Acabou-se aquele romantismo natural que envolvia os apaixonados e induzia-os a apaixonar-se ainda mais, a caracterizar essa paixão de forma eterna e presente, onde se trocavam juras e surpresas de amor e olhava-se mais nos olhos, que é por onde começa o entendimento e compreensão necessários para completar uma relação.

As pessoas não se falam mais, apenas saúdam-se, não conversam mais, deixam recados na secretária eletrônica, as famílias estão perdendo o conceito da palavra que as define como pessoas que se gostam e dedicam-se umas as outras. Pois não há mais tempo para esse tipo de coisa, existe sempre algo a fazer que é mais importante do que alguém, então o subterfúgio é usar a tecnologia para comunicar-se e assim distanciar-se cada vez mais.

Quando se fala em amor, logo se pensa em um casal apaixonado trocando juras, indo ao cinema, passeando de mãos dadas e “otras cositas más”. No entanto é difícil ver essas cenas por aí nos tempos atuais, pois esses mesmos casais estão trabalhando, estudando ou ocupados demais para compactuar com esses momentos, que tem grande importância na vida das pessoas.

E, fatalmente, essa noção de amor está tornando-se piegas em função do corre-corre do cotidiano e cada vez mais, esse sentimento maior e tão gostoso, sendo invadido pela tecnologia, que chegou para tomar lugar na vida do ser humano e até substituí-lo. Por isso, quanto mais crescem as tecnologias, mais distanciadas ficam as pessoas.

Colecionação (ato de colecionar)




Eu queria falar sobre coleções, mas antes vou definir a palavra. O Michaelis nos diz que é uma reunião de objetos da mesma natureza. Ok. E... Bom, eu penso que não seria apenas de objetos. Pode-se fazer coleção do que quiser. Existem colecionistas de selos, acho que são os mais comuns, de moedas, esses também são bastante comuns, de carros, que já não são tão comuns assim, mas há também os colecionadores mais excêntricos, que preferem reunir “pessoas da mesma natureza”, ou não.

Confesso que já tentei adentrar esse mundo dos colecionadores, mais por curiosidade, submetendo-me a surrupiar cartões postais de todos os saudosistas, mas não fui muito feliz, acho que não tive paciência.

Porém, existe um questionamento acerca de tudo isso que me aporrinha as idéias. Pra que diabos serve uma coleção? Na sua definição de origem, é claro! O que leva um ser humano a agrupar vários objetos da mesma natureza, ocupando espaço de algo que poderia lhe ser útil? Gastando, pois deve-se gastar algum dinheiro na aquisição e manutenção, e ainda perdendo tempo. Passatempo? Será que as pessoas têm tanto tempo livre assim? Que estranho prazer é esse que se contenta em contemplar e exibir, uma quantidade de bens inúteis? Pois um objeto quando entra para uma coleção, segundo os que entendem do assunto, não pode mais ser utilizado, mas apenas contemplado. Nostalgia? Apego excessivo? Ou é uma questão que só Freud explica? Enfim, qual é a graça de uma coleção?


Se for pra colecionar, porque não algo realmente interessante. O que? Sei lá! Se soubesse seria uma colecionadora.


Que fique bem claro que não sou contra o colecionismo, mas é preciso que seja, no mínimo, audacioso. Acho que prefiro apoiar os excêntricos, que “usufruem” de sua coleção. Esses sim têm prazer!

O prazer é todo meu!

Meu trabalho é noturno, trabalho sábados, domingos e feriados. Ganho bem. Ganho por casal. Só trabalho com casais, é imprescindível. Esse lance de trabalhar com programas me deixa um pouco cansada e sem vida social, pois acabo não tendo muito tempo pra mim, já que me dedico muito aos casais. Estressa.

Mas é gratificante saber que realizei os desejos dessas pessoas, e que muitas vezes esses momentos que passaram comigo fizeram com que seu casamento voltasse a ter magia.

Vou explicar...

Antes de tudo, a aparência conta muito, é necessário que eu esteja muito bem arrumada e cheirosa, já que vou me relacionar com casais qualificados. Então, definamos “qualificados”, são pessoas casadas com renda média mensal acima de R$7.000,00. Nem muito novos, pois não teriam disponibilidade financeira para o que estou oferecendo e nem muito velhos, pois não se interessariam, já que, fisicamente falando, não têm mais o mesmo vigor para o que pretendo que eles façam. Então as idades precisam estar entre 30 e 60 anos.

Tudo começa assim que o casal chega ao hotel. Vou até eles e apresento-me com muito prazer! Levo-os a mesa que reservei pra nós. Eles ficam um pouco sem graça, pois é sua primeira vez nesse tipo de encontro, mas eu já fiz isso antes e tento relaxá-los descontraindo-os com um bate-papo inicial, onde procuro descobrir mais sobre eles e também deixo que descubram sobre mim. É necessário. Pois preciso saber como conduzir com eles.

Fazemos um pacto de sinceridade e depois já engreno com as preliminares, eles já estão relaxados e aceitam tudo numa boa. O ato vai durar uma hora e meia, é o tempo que tenho disponível pra esse casal. Não é assim, não! Sou uma pessoa ocupada e ainda terei que atender outro casal na mesma noite. Mas no máximo dois, senão canso. Sem contar que ganho muito bem se conseguir satisfazê-los com o programa. Por isso preciso fazer bem feito.

Durante todo tempo a conversa flui de forma envolvente e nós três, entre uma bebida e outra, ficamos tão íntimos que esquecemos que existem outras pessoas ao nosso redor que estão nos observando. O apogeu do nosso encontro é quando consigo fazer com que eles se vejam fazendo aquilo que estou propondo, e eu faço de tal forma, que até saem de si, suspiram e participam ativamente.

Contam suas experiências anteriores, eu conto as minhas e sugiro novas oportunidades, lhes mostro um mundo que não conheciam que faz com que eles se empolguem e também deixem sua imaginação fluir. É um momento mágico! E é um ponto decisivo pra que eles se tornem clientes e queiram permanecer conosco. A satisfação pessoal.

Logo depois sugiro irmos para o quarto. No instante em que entramos no quarto e fechamos a porta, eles já estão querendo muito e aquele é o momento em que eles realmente irão entrar no clima do programa, ali eles têm algo palpável, algo que podem tocar e sentir que poderão ter muitas outras vezes. Basta querer. E eles querem! O que acontece lá dentro é indescritível e só depende de mim! Não posso deixá-los saírem do clima. Senão já era! Mas consigo ir até o fim. E mais! Ainda consigo fazer com que eles aceitem a introdução de uma quarta pessoa, que acaba sendo o momento mais esperado da noite, ou a melhor parte! É a pessoa que irá finalizar e levar-nos ao clímax! Agora sim eles conseguem relaxar!

E percebem que era exatamente isso que estava faltando em suas vidas, esse tempero para seu casamento. O casal já está tão envolvido comigo e com tudo que aconteceu, que faz um acordo ali, na hora e compromete-se a usufruir desses momentos pelos próximos dez anos, e ainda por cima, em outros lugares e países, experimentando coisas novas e até convidando outros casais pra participarem também, só pra não cair na rotina. Meu trabalho é um tanto quanto diferente, eu diria mais, intrépido, mas enfim, prazeroso.

Bom! Consegui! Vendi mais um programa de férias! Então, celebremos com champagne e bolinho de bacalhau.