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domingo, maio 30, 2021

Aquele dia

Naquele dia, não queria nada. Abriu os olhos como faz todos os dias, cambaleou entre pia, box e guarda-roupas e saiu.

O show estampado no outdoor, que não a interessava, continuava na esquina do seu trabalho. O bom dia foi menos intenso e o café, inútil. Também não esperava por nada.

Rotinas cumpridas meio que no automático, maldades esbarrando na sua indiferença, pessoas indo, vindo e rindo. Entre um relatório e uma decisão, risos intermináveis, interrompidos apenas pelo seu estômago, maldito. Já não lamentava nada.

- Posso seguir o GPS? Pergunta o motorista.
- Pode, claro.

Entrar por aquela rua significava fugir dos semáforos, uma pressa que ela não queria, mas tinha.

Entre escada e elevador, pegou o mais rápido. A essa altura, não pensava mais em nada. E não precisava, não naquele dia.

Então, o boa noite foi mais intenso e o vinho, infalível.

domingo, janeiro 17, 2021

Uma noite, toda sua vida


Nunca fora uma princesinha, mas conheceu um sapo mesmo assim. Parecia-lhe difícil discernir os bons dos maus e foram tantos os elogios que, boba, caiu.

Era rechonchuda e as roupas quase nunca lhe caíam bem, achava. Queria sentir-se bonita, só isso. A indústria da beleza pode ser bem cruel. E foi.

Sozinha, apegava-se à sua pequena Ganesha, sempre pendurada com as chaves do cadeado da bicicleta e do armário da escola.  Acreditando não ter opção, aceitou.

Lembra-se somente de ter adormecido no carro dele. Atordoada, despertou com o orvalho frio sobre seu corpo inocente e desnudo. Ao seu redor, nada. Gritou.

Era tarde. Nada traria sua pureza de volta.