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quinta-feira, janeiro 07, 2021

Você é normal?


Você mudou? É hoje a mesma pessoa de uma década atrás? Evoluiu ou regrediu? Saberia dizer? Você é normal? Tornou-se diferente? Se sim, o que o fez mudar? A vida, os acontecimentos, os relacionamentos, você mesmo ou os dedos das pessoas apontados para você? As pessoas precisam, deliberadamente, criar sociedades, padrões, rotular todos e cobrar de quem pensa fora da caixa, é assim que se domina, e pode ser bem cruel com quem não está preparado. Você está?

Há os mais variados tipos de sociedades ao redor do mundo, a maioria são comunidades civilizadas, politizadas, religiosas/espiritualizadas ou não. Desde sempre, o mundo é protagonizado por rituais e práticas sistêmicas que fazem com que seus membros desejem se sentir incluídos, com direito a todos os ritos de passagem e modelos familiares/religiosos/sociais adotados. Todas as sociedades possuem costumes, convenções, leis a serem seguidas, cultura própria, religião predominante e política. Até aí, tudo bem.

As primeiras sociedades que se tem registro, surgiram no período Paleolítico, a 2,5 milhões de anos a.C. Funcionavam como pequenos agrupamentos de humanos que caçavam e colhiam o que fosse possível e levavam uma vida nômade. Já nessa época, havia regras simples como divisão entre caçadores, homens que caçavam animais, e coletores, mulheres e crianças que coletavam grãos, plantas, frutas e o que encontrassem. Eles precisavam sobreviver e, por isso, rateavam tudo que conseguiam e seguiam as regras.

O tempo foi passando, o homem começou a construir novas ferramentas, descobriu agricultura, a pecuária e houve a necessidade de morada fixa. Ainda viviam em pequenos agrupamentos, seguiam novas regras, formavam aldeias e construíam cabanas para fixar residência, família e começavam a eleger líderes para organizá-los. Se apegaram a divindades para explicar morte e forças da natureza que não compreendiam e, finalmente, a chegada da escrita tornou-os uma sociedade civilizada.

Hoje somos um povo civilizado, em sua maioria, e entendo que precisemos de ferramentas que nos mantenham como tais.

Não questiono aqui a existência de paradigmas, mas o dilema começa quando essas convenções instituídas, dogmas arraigados, padrões estabelecidos por um pequeno quórum e senso comum precisem se seguidos por todos piamente, sem questionar, sem interferir, sem entender.

Padrões preconceituosos, retrógrados, conservadores, geralmente pautados por quem domina ou pela religião vigente. Crenças passadas através de gerações, práticas pré-concebidas e muitas vezes seguidas por pura obrigação moral, social ou imposta pela própria família. Algumas totalmente violentas e abusivas, porém, tidas como sagradas pela cultura que as abraça.

A mutilação de genitália praticada em alguns lugares da África, por exemplo, não é apenas dolorida para quem a sofre, como também deixa sequelas para o resto da vida. São cortados os pequenos e grandes lábios e o clitóris com facas, muitas vezes, enferrujadas e sem esterilização e essas meninas nem sempre têm escolha. Algumas nunca mais sentirão prazer sexual ou terão filhos. É somente um exemplo que, para mim, brasileira, parece uma prática absurda, no entanto seus praticantes a consideram normal.

A psicologia fala sobre normose, que seria uma doença de ser normal. Significaria seguir regras, normas ou convenções instituídas por uma sociedade mesmo que se sinta mal, podendo ocasionar consequências nocivas, outras doenças ou até a morte. Quantas situações poderíamos classificar como normóticas hoje em dia? O que acontece na nossa sociedade atual que julgamos normal, entretanto pode ser nocivo? O que é normal? Tudo que entendemos como certo e que vemos todos repetirem? Tudo que vemos na TV? O que aprendemos na escola? O que não é normal?

Guerras travadas por diferenças ideológicas/religiosas, homossexuais espancados à luz do dia, negros e índios perseguidos e discriminados, estupros, terrorismo, extremismo religioso, raças inteiras de animais extintos pela caça esportiva, violência doméstica, tudo isso é normal? Em algum momento da história, algumas dessas práticas já foram. 

Suicídio de pessoas que não conseguiram se encaixar na sociedade em que vivem, que foram tão brutal e silenciosamente enxovalhadas pela família normal, os amigos normais, a sociedade normal, que não resistiram. Homens e mulheres que enlouqueceram pelo mesmo motivo, outros que se adaptaram à força e tiveram uma vida inteira infeliz. Vivemos em um mundo onde todos querem ser iguais a algum modelo, pois se não o forem, serão julgados.

É normal? Quantas convenções você já seguiu por ser convenção? O que você já se sentiu obrigado a ser por conta de uma norma social? Quantos amigos infelizes você tem sem nenhum motivo aparente? Você já foi questionado por ser ou estar diferente dos demais em algum aspecto, por mais ínfimo que lhe pareça? Quem você já teve que se tornar para não se sentir excluído? O que é ser normal? Você é normal?

segunda-feira, dezembro 28, 2020

Mais empatia, como seria?


O mundo precisa de mais amor, por favor. Precisa de compaixão, solidariedade, compreensão, paz, amizade... Sim, sabemos que ele precisa de tudo isso, no entanto - tenho pra mim - o que realmente o mundo precisa é empatia.

Empatia - estado de espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que esta está sentindo.

Se todos nós, criaturas pensantes, animais racionais pertencentes à raça humana conseguíssemos nos colocar no lugar do outro, sentir na pele o que o outro está sentindo, entender todo o contexto daquela pessoa, teríamos mais amor e não teria de ser um favor.

A humanidade vive uma era de ódio generalizada. Ódio político, ódio religioso, racial, homofóbico, misógino, xenofóbico, classicista, ódio por tudo aquilo que foge ao padrão e às convenções da sociedade ao qual se está inserido. Ódio ao oposto, ao diferente, ao politicamente incorreto, ao outro.

Se uma coisa está onde alguém acha que não deveria estar, ódio. Se alguém é algo que uma minoria não gostaria que fosse, ódio. Se emite uma opinião contrária, ódio. Se é, ódio. Se não é, ódio também. Talvez a solução seria não se importar tanto com o que não lhe diz respeito, parar de invadir o espaço pessoal alheio, cuidar da própria vida. Ser egoísta mesmo.

É melhor do que queimar um mendigo por ele estar deitado em uma praça pública. Ou espancar um gay por ele ser gay. Ou entrar em uma igreja atirando em todo mundo por todos serem negros. Ou invadir um trem e atacar um torcedor de outro time pelo simples fato de ele torcer para outro time.

Se todos nós tivéssemos a, não tão incrível, capacidade de nos projetar em outra pessoa ou, num dado momento, na pobre criatura agredida física, psicológica ou verbalmente, não chegaríamos a agredi-la. Se entendêssemos as necessidades e ansiedades alheias como se fossem nossas também, não chegaríamos ao ponto em que estamos hoje.

E, assim, quem sabe, a moça do tempo não seria execrada publicamente nas redes sociais, os inocentes cachorrinhos passeando no condomínio não seriam atacados a tiros por estarem passeando.

E talvez, só talvez, bananas não seriam atiradas no estádio de futebol, amigos não virariam inimigos por simpatizarem com partidos políticos diferentes, deficientes teriam suas vagas de estacionamento sempre vagas quando precisassem e mulheres não seriam estupradas por andarem de saia na rua.

Um país que vive à sombra de uma cultura de meritocracia e que não a comporta, pois é repleto de desigualdades, se conseguisse incorporar essa presunção de projeção, entenderia que qualquer coisa pode acontecer com qualquer um. Que o bullying não é divertido para quem sofre e que o contrário também pode acontecer.

Compreenderia que não se pode julgar sem conhecimento de causa. Que mulher não foi “feita para apanhar”, que nem todos têm as melhores oportunidades na vida e que “sucesso” pode ter semânticas diferentes. Um viciado em drogas não é, necessariamente, um bandido, mas apenas alguém que não teve escolhas. Um animal de rua não merece ser chutado por estar na rua, ele preferiria não estar.

E com mais empatia, como seria? Seria mais igualitário, mais coeso, mais tranquilo. Seríamos mais tolerantes. Valeríamos mais a pena. Guerras teriam sido evitadas.

Se essa ideia pegasse, professores não apanhariam de alunos e as salas de aula serviriam para ensinar e aprender. Se virasse hashtag, que está na moda, seríamos todos Charlies, Majús e Kalianes e uma criança não seria apedrejada ao sair de um culto apenas por pertencer a determinada religião. Como seria? Seríamos humanos, no sentido mais puro. Por favor, mais empatia!