quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Vida de pesquisador!


Terça-feira, nove horas, toca o telefone. Emengarda atende. É do instituto de pesquisas que ela trabalha como free lancer, Pafúncio a convocando para a instrução (reunião onde são passados como e onde será feito o trabalho), marcada para as 13h no escritório. Ah é pra levar mochila, pois pode ser que tenha que viajar.
Emengarda, feliz, pois está sempre precisando de dinheiro, vai se preparar pra sair. Pega sua mochila, que está sempre a postos, e começa a recheá-la com um casaco, pois geralmente as viagens são à noite e ela sente frio, uma calça, duas blusas, roupas íntimas, material de higiene e prancheta, canetas e crachá. Pronto. Já pode sair? Não. Ainda falta pegar seu bloqueador solar, pois nunca se sabe aonde vai. Agora sim, está pronta, só falta tomar um banho e vestir algo confortável para agüentar a viagem.
Aproximadamente às 12h30min chega ao escritório. Lá encontra alguns dos seus colegas de trabalho que também irão viajar e conversam muito até a chegada dos coordenadores com o material, que inclui os questionários de pesquisa, os cartões demonstrativos de possíveis respostas, a filipeta (endereços dos pontos de pesquisa), a grade (papel onde constarão os nomes e idades dos entrevistados), a cidade pra onde cada um irá e, claro, as passagens. Pafúncio, o coordenador, começa a distribuir os pilotos, que são os questionários de rascunho para possíveis mudanças ou explicações, entre os pesquisadores.
- Boa tarde pessoal, vamo lá?
E todos prestam atenção minuciosamente no que ele diz até o momento em que um dos pesquisadores, (sempre ele) faz uma pergunta idiota. Bom, todos já conhecem, ele simplesmente não consegue se conter, mas dá-se continuidade, pois alguns terão que viajar às 16h. E, finalmente após várias interrupções e risadas e além do fato de o coordenador ser meio lento, consegue-se terminar.
Bom, nesse ponto cada um já sabe aonde e com quem viajará e toma seu rumo. Emengarda irá junto com Mequetrefa, uma recém chegada na função, para Nova Fátima, uma cidadezinha da Bahia mesmo, mas tão pequena que se você correr sai da cidade. Ela sabe que chegarão ao lugar à meia noite e terão que descer na estrada, procurar a cidade e se tiver alguém acordado, conseguirão uma pousadinha para passar o resto da noite, senão paciência até o amanhecer. Porém... Aquela era a noite de sorte delas, havia uma casa com a luz acesa e elas conseguiram que lhe indicassem uma pousada.
As 6h de quarta-feira as duas já estão na rua com seu primeiro entrevistado, pois quanto mais cedo começassem mais cedo terminariam e poderiam pegar o primeiro ônibus de volta sem precisar gastar suas diárias. Somente às 9h Emengarda consegue terminar seu primeiro ponto, ou seja, as primeiras sete entrevistas no primeiro endereço. Estava difícil, as pessoas estavam com pressa e não queriam parar. E ela foi para o segundo ponto disposta a fazer os outros sete, enquanto Mequetrefa tentava terminar seus primeiros. Daí percebeu que havia reclamado demais, pois lá pelo menos tinha alguém passando, ainda que com pressa, e agora não passava ninguém. Mas a Free Lancer não desanimou, ela já havia passado por isso antes e sabia que era só esperar, que haveria de aparecer alguém. Pobre Emengarda, esperou até seu protetor solar derreter todo e ela torrar com aquele sol, pois era branca de dar dó. Porém às 17h ela consegue sair vitoriosa de sua última abordagem a um senhor de 80 anos, que só entendia o que ela falava depois da terceira vez e que dizia que não sabia a cada pergunta. Mas conseguiu.
A pesquisadora extasiada depois de saber que poderia voltar para o aconchego do seu lar vai pra pousada fechar a conta e aguardar Mequetrefa. Às 17h30min a novata chega esbaforida e as duas correm pra estrada na tentativa de pegar o ônibus das 18h que era o último, conseguem. Mas ainda não acabou sua peregrinação, elas ainda teriam que levar o material ao escritório no outro dia bem cedinho, quer dizer nem tão cedo, pois o coordenador não chega cedo. E durante a viagem de volta, muito cansada e já relaxando com a certeza do dever cumprido, a trabalhadora “super-bronzeada” para pra pensar e se questiona se era realmente essa a vida que queria levar. Ela sabe que é um serviço puxado, cansativo e sem reconhecimento, pois ninguém acredita em resultados de pesquisas e pior ainda, um pesquisador só existe para aqueles que foram entrevistados por ele, pois ninguém acredita que existam pesquisadores. E depois de várias viagens, Emengarda decide que iria deixar de ser pesquisadora. Então começou a pensar que havia um lado bom, o lado de estar sempre viajando e conhecendo novos lugares e pessoas, no quanto ela gostava de arrumar a mochila sem saber pra onde ia ou se conseguiria voltar... Mas... Bastava! Tinha decidido! Depois que entregasse o material não iria mais trabalhar com isso. Chegou ao escritório, entregou o material e foi embora, irredutível.
Sexta-feira, nove horas, toca o telefone. Emengarda atende. É do instituto de pesquisas, que ela trabalha como free lancer, alguém a convoca para uma instrução (reunião onde são passados como e onde será feito o trabalho), marcada para as 13h no escritório. Ah é pra levar mochila, pois pode ser que tenha que viajar.
Emengarda, feliz, pois está sempre precisando de dinheiro, vai se preparar para sair. Pega sua mochila que está sempre a postos e começa tudo outra vez.

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