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sábado, dezembro 08, 2007

São Joaquim da Bahia

Sou baiana.

Morei na Bahia, praticamente, a minha vida toda. E isso quer dizer alguns anos. Mas tenho um arrependimento, algo que não tinha importância há até pouco tempo atrás, apesar dos burburinhos que me rodeavam. Uma coisa que eu não tinha vivido ou sentido e que não me fazia falta, ou eu pensava que não. Comparo à sensação de comer lambreta! À primeira vista, causa má impressão e resistimos bravamente a ela, e enquanto não criamos coragem, não fede nem cheira. Só depois que comemos, descobrimos seu aroma!

Foi assim comigo e a Feira de São Joaquim. No decorrer dos meus alguns muitos anos de vida, eu nunca havia visitado essa feira tão famosa. Confesso que me surpreendi com o que vi e presenciei. Surpresa boa.

Cheguei à feira meio ressabiada com o que encontraria e logo fui abordada por um senhor de mais ou menos 45 anos, que parecia estar acostumado com visitantes como eu, que ficavam com cara de “E agora?” quando adentravam pelas barracas e se deparavam com tanta variedade de objetos e tanta gente diferente. Eu fiquei. Não sabia para onde ir ou o que fazer, e nem o que responder ao meu breve anfitrião, que ansiava por vendas. Resolvi caminhar pelos corredores estreitos e escuros, onde a única luz que entrava era a do dia. Eram vários e todos pareciam dar no mesmo lugar. Peguei uma linha reta e só parei no final da feira, na parte de trás, estava vazio. Precisava pensar meus próximos passos. Passei por galinhas de quintal, tigelas de barro, calcinhas e cuecas de todos os tamanhos e cores, pássaros, sapatos, gente carregando bezerro e estátuas que mostravam os mínimos detalhes do corpo humano, até os mais íntimos - se é que vocês me entendem.

De repente, avistei o sol. Nos fundos da feira, há um espaço aberto e deserto, onde não passam muitas pessoas. Foi onde encontrei Dona Nira, mãe de família, dona de casa, comerciante de temperos e, segundo ela, uma mulher realizada. Enquanto enchia saquinhos plásticos com folhas de loro, conversou comigo. Falou da sua vida, da sua família, seu trabalho, da feira e de como gostava de trabalhar lá, disse que aquilo lá já tinha mudado muito desde que chegara e que já tinha visto gente de tudo quanto é parte do mundo, mas gostava mesmo era de sua gente. Eu era como ela e fazia parte da sua gente, pensei, então percebi que estava em casa.

A primeira vez que comi aquele molusco visivelmente gosmento, levei à boca contra minha vontade e não esperava gostar, já tinha até um discurso pronto pra declarar a quem me obrigava a tal tortura. Mas gostei da danada da lambreta. Tem tudo a ver comigo e com os baianos, assim como a Feira de São Joaquim. Parece que não vai prestar, mas presta. Tem tudo que se precisa e precisa de tudo que tem. Dia desses volto lá e, no caminho, paro pra uma lambretinha.